O que pudemos aprender em 2020?
São muitos os discursos que permeiam o que permaneceu do ano de 2020. Desde o “um ano para ser esquecido”, até “tudo é experiência e crescimento”.
Pode ser realmente difícil encarar com positividade um ano em que tanta gente morreu, a nossa rotina foi alterada de forma brusca e muitos perderam seus empregos. Mas a verdade é que se não tirarmos nada das situações difíceis, elas não se frutificam em aprendizados para as nossas vidas.
Por isso, a importância de relacionarmos o que deve ficar de um ano tão difícil como 2020 para o mercado condominial é, sim, fundamental. Um período disruptivo sempre traz mudanças que são positivas. Confira!
Assembleia virtual ou híbrida
A necessidade de se decidir os rumos do condomínio de forma legal foi extremamente alterada durante o período de pandemia, e as assembleias remotas ou virtuais se tornaram uma opção real, de acordo com a lei 14.010, que não está mais em vigor.
Isso, porém, não quer dizer que essas novas modalidades de assembleia estejam proibidas – até porque muitas cidades estão na chamada faixa vermelha, em que não se deve aglomerar. Nesse caso, se faz ainda mais necessário contar com esse suporte tecnológico.
“A assembleia virtual veio para ficar. Dificilmente vamos voltar ao formato antigo de só podermos fazer a assembleia presencial”, aponta Gabriel Karpat.
Planejamento a curto, médio e longo prazo como algo essencial
Os planos todos mudaram em 2020 não é verdade? Foi preciso se adaptar rapidamente às diversas novas situações e recalcular rotas rapidamente para manter o condomínio seguro.
E quanto àqueles que não tinham nenhum planejamento?
“Para esses síndicos, com certeza esse período de pandemia foi muito mais difícil”, crava Gabriel.
“Esse ano deixou muito mais claro como é fundamental que o síndico tenha essa visão de curto prazo, mas também de médio e longo alcance. Isso ajuda na tomada de decisões quando algo diferente acontece, e você precisa tomar decisões de uma hora para outra”, argumenta ele.
Um novo entendimento acerca da limpeza do condomínio
Em 2020, a importância da limpeza ganhou um novo significado, apurando bastante os procedimentos de limpeza das áreas comuns, principalmente aquelas com maior circulação de pessoas.
Agora, os cuidados com a limpeza devem permanecer em alta.
“Não é algo que vá desaparecer. Com certeza os síndicos deverão seguir cuidando com muita atenção dos procedimentos de limpeza”, analisa Nilton Savieto, síndico profissional.
A higienização mais recorrente de ambientes fechados, como elevadores, também deve continuar.
Distanciamento e barreiras contra a covid-19
Principalmente em prédios comerciais, deve-se continuar usando as placas de acrílico para separar recepcionistas de visitantes, por exemplo.
Outra medida profilática que veio para ficar são os tapetes higienizadores de duas fases – em que na primeira você passa em um tapete com solução bactericida e outra em um tapete seco, para impedir que sapatos contaminados espalhem os vírus pelos condomínios.
Minimercados em condomínios
Um boom que ocorreu durante o período mais intenso do distanciamento social foram os minimercados em condomínios. A proposta é boa e tem tudo a ver com o momento: um pequeno mercado, na área comum do condomínio.
“É uma forma do síndico oferecer mais praticidade para os moradores”, pontua Rafael Freitas, sócio da Numenu, start-up que leva o formato para condomínios.
Por meio de um app, os moradores compram o que desejam na loja, que não conta com funcionários. A única necessidade é sinal de internet, para que as câmeras de segurança gravem o ambiente.
Acompanhamento próximo da inadimplência
Um dos maiores medos no início da pandemia foi, justamente, um aumento muito acentuado da inadimplência nos condomínios.
O temor era que os condomínios poderiam entrar em colapso devido aos altos índices de inadimplência. Ainda bem que, na grande maioria dos casos, isso não ocorreu e a inadimplência não escalou a níveis preocupantes nas principais capitais brasileiras onde o percentual de devedores é acompanhado.
Esse medo, porém, serviu para que muitos síndicos se debruçassem nos números referentes à inadimplência do empreendimento.
“Muitos síndicos ficaram de olhos abertos para evitar que algo de pior acontecesse às finanças do seu condomínio”, aponta Gabriel Karpat.
Vale ressaltar que esse tipo de cuidado deve permear a gestão do síndico – já que a inadimplência é algo que pode virar uma bola de neve no condomínio, penalizando quem está em dia com as suas obrigações com uma taxa condominial mais alta.
É importante lembrar que, ao lidar com taxas condominiais em atraso, o síndico não pode oferecer descontos de nenhuma natureza e que deve, sempre, contar com os serviços de um advogado especializado na área.
Tolerância e solidariedade com os vizinhos
Em 2020, em muitos condomínios, a grande maioria dos moradores foi obrigada a ficar em casa, 24h por dia. Foram meses de trabalho, estudo – de adultos e crianças – cuidado com a casa, tudo sem sair da unidade.
Houve quem desejasse fazer reforma e conseguiu nesse período, para desespero dos vizinhos que precisavam fazer calls enquanto, ao lado, uma parede era derrubada. Em outras situações, houve a necessidade real de parar uma obra no meio, para respeitar o silêncio necessário na vida dos vizinhos.
“Aqui, muitas vezes optei por ‘dar um desconto’ devido ao estresse que sabia que muitos moradores estavam passando. Foi um momento de tensão e temos que saber quando uma pessoa estoura e aquilo não é um comportamento natural dela”, pontua Nilton.
Também viu-se muito cuidados da comunidade para com os mais fragilizados.
“Percebi um senso de comunidade maior em diversos condomínios. Quando os mais velhos não podiam sair, os mais novos faziam as compras, iam à farmácia e, assim, asseguravam as necessidades dos idosos, respeitando o isolamento social”, argumenta Gabriel Karpat.
A importância dos funcionários do condomínio
Quem antigamente saía do empreendimento cedinho para trabalhar e voltava só no fim do dia, dificilmente conseguia dimensionar a carga de trabalho dos colaboradores do condomínio.
Esse ano que passou deixou em evidência a sua importância.
“Fizemos todo o possível para que os empreendimentos não ficassem sem funcionários, e, em muitos locais, não tivemos um dia de falta. Eles realmente se comprometeram com o condomínio”, ressalta Nilton.
Assim, foi possível ver, em muitos locais, o engajamento dos funcionários para manter as áreas comuns sempre limpas e livres de covid-19 e o condomínio funcionando normalmente.
A complexidade do papel do síndico
Quem não entendeu como pode ser difícil ser síndico no ano passado, talvez não entenda mais.
O síndico foi forçado a “tocar o barco” do condomínio de forma inédita: com novas informações quase que a cada semana. Fechou as áreas comuns. Depois abriu. Em muitas cidades, agora as áreas comuns voltam a fechar.
Como agir com os moradores que se negam a usar máscara? Como se comunicar da melhor forma? Os síndicos enfrentaram dúvidas muito concretas esse ano – e estavam em casa, no caso dos síndicos moradores, para ainda terem que lidar com os moradores mais problemáticos.
“Foi um momento em que a grande maioria dos condôminos pode perceber como é importante e complexa a sindicatura”, argumenta Gabriel Karpat.