“Se você quiser fazer todo mundo feliz, não seja um líder, venda sorvete.” A frase é de Steve Jobs e vale uma boa reflexão que pretendo te ajudar a despertar.
O mercado condominial tem exigido de nós síndicos que representemos uma série de papéis, todos eles de extrema importância para o sucesso de uma gestão. Um deles é o relacionado à liderança, que, na minha opinião, é o principal atributo que um síndico deve ter. O líder é uma figura importante e necessária em qualquer tipo de comunidade.
Nos condomínios não é diferente. Os síndicos exercem o papel do líder que intermedia o diálogo entre os diversos públicos que integram o universo condominial, sendo-lhes necessário ter sensibilidade e inteligência emocional para desempenharem essa função ao tempo em que mantém o foco na entrega de resultados efetivos. Lidamos com moradores, conselheiros, funcionários e fornecedores todos os dias. Cada um desses relacionamentos tem características diferentes e devemos estar sempre atentos ao papel que temos a representar neste diálogo, mesmo que haja o risco de nos indispormos com alguém.
Para ser um bom gestor é necessário assumir riscos. Sempre digo que todas as decisões que tomamos a partir do dia de uma eleição possuem algum tipo de risco. Ao erguermos a mão e nos candidatarmos ao cargo assumimos o primeiro risco: o de não sermos eleitos para a função. E, ao sermos eleitos, enfrentamos um grande desafio: o de agradar à maioria sem deixar que este desejo enviese nossas ações, convencendo até mesmo àqueles que não votaram em nós de que estamos fazendo a melhor gestão para todos.
E digo a maioria porque, se há um risco que é inerente à árdua jornada de um síndico/ líder é o de que, muito provavelmente, não vamos agradar sempre. E, mesmo que estejamos agindo no estrito cumprimento da lei, iremos enfrentar questionamentos e precisamos nos pautar pelo dever que temos a cumprir, solucionando conflitos, preservando e valorizando o patrimônio dos condôminos e nos tornando uma referência para cada um dos públicos com os quais lidamos.
É natural que ao ocuparmos este cargo percebamos toda a carga negativa que o estereótipo do síndico traz consigo, mas isso não deve abalar nossas decisões. Pelo contrário, deve nos servir como estímulo para que consigamos transformar a gestão e a maneira como as pessoas veem nosso papel. Para alcançar seus objetivos, o líder/ síndico tem que agregar as pessoas e aqui se incluem todos que interagem no e com o condomínio, como proprietários, empregados, prestadores de serviços e inquilinos.
Um bom síndico precisa saber lidar com pressões e situações imprevisíveis que exigem que decisões assertivas sejam tomadas. Da eleição em diante enfrentamos quase que diariamente desafios que nos impõem escolhas que não podemos driblar. Muitas vezes, podem parecer decisões simples, mas, desempenhar todos os papéis que temos de forma competente implica em ter nosso pensamento à frente e nos antecipar ao rumo que cada uma daquelas decisões pode trazer.
Mesmo diante das adversidades que enfrentamos em nosso dia a dia, quando sentimos que o nosso trabalho possui um sentido e está alinhado com o nosso propósito, os percalços que fazem parte de todo e qualquer trabalho são pequenos. Ser síndico é uma profissão que nos escolhe e com certeza é para poucos, então é fundamental que saibamos qual o nosso propósito para sermos felizes em nossas realizações diárias, seja qual for o nível de dificuldade que elas possuem.
É preciso coragem para abraçar uma carreira e assumir os riscos inerentes a ela, seja ela qual for. E, definitivamente, ser um bom líder e ter confiança para desempenhar este papel é de extrema importância para trilharmos o caminho do sucesso.
Ter confiança não quer dizer se achar o tal, ser arrogante ou algo do tipo. Pelo contrário! Não há crescimento na zona de conforto, por isso é importante nos colocarmos sempre na posição de quem está disposto a aprender e se aprimorar. Por falta de um termo melhor é preciso nos colocarmos numa espécie de “humildade” de que fizemos o melhor, para sempre procurarmos fazer o nosso melhor.
Na minha opinião, é nesse sentimento de “humildade” que nos abrimos para aprender e para também termos a possibilidade de crescer profissionalmente e pessoalmente. Quando mostramos essa humanidade e deixamos a nossa confiança um pouquinho de lado, damos a oportunidade para que algo incrível possa acontecer. O sentimento que nos invade após o contato com alguém que nos faz enxergar por outro prisma ao tomarmos uma decisão é enriquecedor e pode mudar toda a história de um condomínio e também a direção da nossa trajetória profissional. É aí que mora o crescimento. Conseguir enxergar através de outros olhos podendo introjetar novos conhecimentos.
A busca deve ser sempre no sentido de construir o novo e não lutar contra o velho. Ser protagonista de nossa história envolve o desenvolvimento de diversas habilidades e precisamos estar abertos a reconhecer nossos pontos fracos para trilhar este caminho. Liderar é a arte de alcançar mais resultados e estes não podem ser alcançados de maneira solitária, é uma construção. Posso dizer que no caso da sindicatura é algo a ser construído junto com os grupos de pessoas que nos relacionamos em nossa rotina. Como diz o psicólogo britânico e professor Adrian Raine, “as pessoas respeitam as outras pelos seus pontos fortes, mas as amam por sua humanidade”, contudo não queira agradar a todos se quiser ser um líder.
Eu não vendo sorvete. E você?
Betina Soldatelli
Síndica Profissional certificada (Síndico 5 Estrelas), psicóloga, pós graduada em Gestão de Marketing pelo Insper e pós-graduanda em Psicologia Positiva, Ciência do Bem-Estar e Autorrealização pela PUCRSONLINE.