Polícia Civil diz que só foi acionada na última segunda-feira (3). Obra na Ladeira dos Tabajaras está em estágio avançado e apartamentos são oferecidos por R$ 170 mil.
O sonho da casa própria diante de cartões postais do Rio a R$ 170 mil. O desejo de viver em Copacabana, a um quilômetro da praia, só tinha um problema: todo o condomínio em construção é irregular, sem licença ou documentação e em área de proteção ambiental, controlada pelo tráfico de drogas.
A obra está em estágio avançado e já destruiu parte da Mata Atlântica. A Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente disse que só foi notificada pela Prefeitura sobre a construção na segunda-feira (3). O secretário, Sebastião Bruno, disse que recebeu a denúncia há 60 dias e avaliou a ação como “rápida”.
Em 25 de janeiro, o G1 entrou em contato com a Secretaria Municipal de Habitação (SMH), questionando sobre a construção irregular e os anúncios na internet. No dia 27, a reportagem voltou a cobrar uma resposta.
Condomínio está sendo erguido na Ladeira dos Tabajaras — Foto: Infográfico: Roberta Jaworski/G1
A construção do Condomínio Alto Copa fica na Ladeira dos Tabajaras, local onde há atuação do tráfico de drogas. O RJ1 apurou que os criminosos exigiram dinheiro para liberar a construção na comunidade.
Cada unidade tem 67 metros quadrados, com bela vista do alto para bairros como Copacabana, Urca e Flamengo.
A entrega era prevista para abril de 2020 e prometia um condomínio com:
- piscina;
- sauna;
- área para crianças;
- academia.
A construção invade a Área de Proteção Ambiental (APA) São João. Das imagens aéreas, é possível ver que a obra avança pela mata.
‘Falta de fiscalização’, diz especialista
O arquiteto Pedro da Luz Moreira, especialista da Universidade Federal Fluminense (UFF), viu as imagens do Globocop. Além da falta de autorização, o prédio tem mais uma irregularidade: está acima do gabarito.
“(O condomínio) Vai ter um impacto muito grande na paisagem geral da cidade e, certamente, não é um empreendimento aprovado. Isso denota toda essa falta de fiscalização e falta de acompanhamento e de poder público nessas comunidades”, diz o arquiteto.
Os anúncios eram veiculados em redes sociais e pediam para o cliente procurar o “Senhor Campos”. O RJ1 ligou para ele.
“Tenho uma escritura que é do terreno inteiro. É uma escritura só, do terreno inteiro. Então, eu tenho que construir, tirar o habite-se e desmembrar. Só assim eu vou conseguir individualizar cada escritura definitiva. É como qualquer construtora grande”, disse.
O que diz a secretaria
“Foi rápida, foi rápida sim. Na realidade, essa denúncia chegou há coisa de 60 dias. A gente já tinha feito um mapeamento de tudo, fechado toda a operação. Mas infelizmente a Polícia Civil pediu que a gente reprogramasse e não fizesse ontem (terça, 4). Agora, essa ação é um pouco complicada. São áreas conflagradas, não é qualquer uma pessoa que está ali construindo. Você tem problema em determinadas áreas com tráfico, em outras áreas com milícia. Então, são áreas conflagradas, a ação tem que ser muito bem planejada, muito bem feita para não ter ali a integridade física dos servidores ameaçada”, afirma o secretário Sebastião Bruno
Alerta para compradores
A obra não tinha nenhuma placa de identificação dos responsáveis pela construção. O professor da UFF alerta que compradores fiquem atento com isso.
“A presença dessas placas é muito importante, e é muito importante que a população cheque isso. Porque ela pode, muitas vezes, pagar um preço mais barato nessas unidades, mas ela talvez vá depois pagar um preço muito mais caro exatamente por causa desses sinistros que podem vir acontecer”
Área de lazer de prédio em Copacabana prevê churrasqueira — Foto: Reprodução
Planta de apartamentos em condomínio irregular em Copacabana — Foto: Reprodução
Área de lazer com piscina em condomínio irregular em Copacabana — Foto: Reprodução
Visualização em 3D de condomínio irregular em Copacabana — Foto: Reprodução
Tragédia na Muzema
Em abril do ano passado, em outra região dominada por criminosos, o sonho da casa própria desabou. Um prédio na Muzema, na Zona Oeste, caiu e matou 24 pessoas. O empreendimento fora construído por milicianos, segundo a polícia.
Em comum, os imóveis irregulares do Tabajaras e da Muzema não apresentavam garantias aos compradores. Não há informações se bandidos também estão por trás da construção na Zona Sul.
Fonte:
https://g1.globo.com/