Cenário de gestão ainda não está claro para síndicos
2020 foi um ano que ninguém vai se esquecer tão cedo. Foi um momento que realmente deve entrar para os livros de História. E, como todos sabem, não é fácil viver em momentos de tensão histórica.
Para os síndicos, que tiveram que traduzir todo esse período conturbado em decisões – muitas vezes difíceis – para que o condomínio pudesse seguir sendo um espaço de cooperação, em sua plena funcionalidade e com condições de convivência intensa entre os moradores, que durante meses passaram muito mais horas em suas unidades, foi um ano de muito trabalho.
“Foi um ano com muitas diferenças e de velocidade de tomada de decisões muito acelerada. No ano que vem, espero que tenhamos mais previsibilidade para trabalhar”, assinala Gabriel Karpat, diretor da administradora GK.
Com isso, houve também uma grande demanda do síndico por parte dos moradores, para explicar as decisões que foram tomadas, muitas vezes até sem assembleia, em um momento em que os encontros não poderiam ser feitos presencialmente e nem remotamente.
“O período foi de apagar muitos incêndios em diversas áreas do condomínio, com equipamentos usados à exaustão e um uso muito diferente do condomínio, em comparação com o que estamos acostumados”, argumenta Gabriel.
Os síndicos puderam ver seus planos de ação sendo deixados de lado. “A pandemia desestabilizou todo o nosso cronograma para o ano”, contou o síndico profissional Eduardo Festa.
Com muita coisa sendo deixada para depois em 2020 para atender às exigências do momento, que se empunham devido à sua urgência ou gravidade. Mas esse ‘depois’ já está chegando: 2021 começa já daqui a alguns dias, com todos os desafios de um novo período que, não se sabe ainda se será de pandemia, lockdown, ou de diminuição da circulação do vírus no país.
E, para deixar tudo mais desafiador, com contas muito atípicas do período de 2020 para que os síndicos e administradoras se baseiem para fazer as projeções corretas para 2021.
Planejamento
“Estou confiante que o próximo ano será mais positivo, mas precisamos de muita organização para que isso aconteça”, aponta o síndico profissional Nilton Savieto.
Um dos pontos-chaves para essa organização diz respeito à previsão orçamentária do próximo ano – e, com isso, as benfeitorias que serão prioridade para o condomínio em 2021.
“Todos ainda estão preocupados com as finanças do condomínio, é ainda um momento de economia”, destaca Gabriel Karpat.
Nilton Savieto concorda com essa visão. “Ninguém ainda está muito seguro do que vai acontecer em termos de inadimplência, e é importante termos parcimônia para montar a previsão orçamentária”, pesa ele.
Por isso, uma das estratégias de planejamento do síndico profissional é justamente avaliar todos os contratos de prestação de serviços de seus clientes, e repensar estratégias que podem impactar positivamente nas finanças de forma a não perder qualidade no serviço e nem aumentar a cota condominial – uma conta difícil, mas possível.
“É fundamental investir em manutenção preventiva o máximo que for possível, já que a corretiva é mais custosa. Estou procurando também todas as empresas para conversar e, assim, negociando um aumento de no máximo 5% este ano, para evitarmos surpresas”, argumenta ele.
Outra estratégia utilizada por Nilton foi repensar alguns prestadores de serviço em tempo integral. “Condomínios que contavam com um manutencista em tempo integral agora vão revezar o profissional com outros dois empreendimentos. É uma forma de baratear o custo e não deixar o condomínio sem os devidos cuidados”, explica.
Eduardo Festa também seguiu este caminho. Seu condomínio, antes, contava com dois piscineiros o ano todo. “Agora, se for preciso, contrataremos mais um profissional apenas no verão. Não é necessário os dois profissionais aqui durante todo o ano”, ressalta.
Outra medida de economia para o próximo ano é uma caixa d’água extra de 40 mil litros, para armazenar água de reúso – o empreendimento cuidado pelo profissional já conta com um reservatório de 20 mil litros. “São formas de ajudar as finanças do condomínio a se manterem sempre positivas”.
Reajuste da cota condominial
Um medo que muitos síndicos devem estar sentindo para o próximo ano é o reajuste da cota – que é imperativa em muitos casos.
“Aqui já são quatro anos sem aumento no valor da cota, mas esse ano, com todos esses gastos extras, vai ser impossível não aumentar”, explica Eduardo Festa.
Há empreendimentos em que um reajuste será realmente necessário. Em outros, porém, os síndicos seguem investindo a sua criatividade para aliviar as contas do condomínio com responsabilidade.
“Cuido de um empreendimento que vai receber uma soma em dinheiro de uma ação de inadimplência. Quando recebermos, vamos dividir esse valor em 12 vezes, para abatermos da cota condominial, para assim todos os condôminos serem beneficiados ao longo do ano”, explica Nilton.
A tecnologia também pode ser uma aliada nesse momento de contenção de custos. “Um trabalho cauteloso com os dados do condomínio aliado à tecnologia vai ser uma ótima ajuda para prevermos o que será possível contingenciar para o próximo ano, evitando altas no valor das cotas”, analisa Gabriel Karpat.