Moradores ouvidos pelo RJ2 mostram vazamentos, rachaduras e falta de fornecimento de gás nas instalações. Denúncias apontam ainda que os residentes são extorquidos por milicianos
Pessoas que foram retiradas da antiga favela Vila Autódromo, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, para a construção do Parque Olímpico, em 2016, relatam problemas nas condições dos condomínios que foram oferecidos pela prefeitura como alternativa de moradia.
Para a construção do parque, que seria usado nas Olimpíadas de 2016, a Prefeitura do Rio demoliu o autódromo de Jacarepaguá e removeu a favela que ficava no entorno.
A casa de Bruno de Oliveira é uma das únicas que sobraram da antiga comunidade. “Eles não me deram proposta nenhuma, deram proposta de um trocado que eu não compro nem uma kitnet aqui próximo”, afirma o morador que permaneceu morando no local.
A maior parte dos moradores saiu para apartamentos num condomínio próximo. Na época, a gestão do então prefeito Eduardo Paes prometeu que a alternativa oferecida seria “um condomínio de altíssima qualidade para que as pessoas possam ser reassentadas com dignidade”.
São 860 apartamentos divididos em 45 blocos, todos com área de lazer, quadra de esportes e salão de festas. Os apartamentos têm sala, varanda, corredor e três quartos.
Cinco anos depois, a moradora Vania Cristina da Silva afirma que muitas promessas nunca saíram do papel.
“As dificuldade são o transporte, a creche que eles ofereceram para gente e não temos, a clínica da família que também não tem”, diz a técnica de enfermagem.
“Eles prometeram para gente que viriam para ver sobre a questão dos apartamentos que estão deteriorados. Muitos têm rachaduras, as rampas estão todas destruídas, porque com o tempo oxidou e outras coisas mais que eles prometeram e não cumpriram com nada”, completa.
Outra moradora relata mais problemas na estrutura do condomínio. “Aqui tem retorno de esgoto para dentro dos apartamento, estruturas rachando, escadas que dão vazamento de um andar para outro”, conta Vera Lucia Soares.
Dona Francisca conta que precisa usar botijão de gás, porque o gás encanado deixou de ser fornecido.
“Aqui o material é de péssima qualidade. Como o empreendimento é bom? Se você prestar atenção, está tudo vazando, tudo mofando. A minha casa não era assim”, afirma a moradora.
O RJ2 apurou que os moradores são impedidos de usar a piscina, que fica restrita ao uso de milicianos. Os criminosos extorquem os moradores com cobranças de R$ 40 por apartamento.
O que dizem os envolvidos
A empresa de gás Naturgy afirmou que o fornecimento de gás no condomínio foi interrompido por motivo de segurança, após um vazamento ser detectado nas instalações internas. Disse ainda que, no local, há trechos de tubulação aparente com avançado estágio de corrosão e sem qualquer tipo de proteção.
A orientação da empresa é a realização da troca total da tubulação e, para isso, a empresa diz que já enviou para a administração do condomínio o orçamento. A administração do condomínio, por sua vez, afirma que não tem dinheiro em caixa para fazer os reparos necessários.
A Prefeitura do Rio informou que o Parque Carioca foi construído em uma área com total infraestrutura urbana, com estações de BRT próximas, assim como escolas e clínicas da Família. Disse ainda que faz vistorias constantes no local e que, na última, que aconteceu em junho, realizou serviços de limpeza, melhoria da iluminação pública, entre outros. Mas que depois da entrega do empreendimento, a responsabilidade por fazer reparos é da administração do condomínio.
Sobre as denúncias da atuação da milícia no local, a Polícia Civil disse que, até o momento, não foi feito nenhum registro de ocorrência sobre o caso, mas que irá instaurar inquérito policial para apurar o fato.
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