É chegada a hora de falar e não de se calar. Passamos tempos difíceis, onde as pessoas não têm se colocado no lugar do outro e as más notícias, assim como fatos terríveis estão cada dia mais normais. Será que é esse o “novo normal” que todos vêm falando? No novo normal trazido pela pandemia cabem pessoas querendo se matar por conflitos políticos, cabe racismo, cabe criança que cai do prédio quando estava sob os cuidados da patroa, cabem profissionais da área da saúde sendo espancados porque não toleraram a festa do vizinho com sons altos, cabem pessoas que não conseguem conviver com a família e pior, sequer consigo mesmas. O tempo do “novo normal” nunca esteve tão anormal, sob o meu ponto de vista.
Mas fato é que a maioria das pessoas estão vivendo em Condomínios. E esse tempo reflete a nossa vida em sociedade. Os condomínios são mini sociedades. O que tenho visto como advogada de condomínios em tempos de pandemia me entristece como pessoa. Confesso que vi poucos gestos de bondade, mas muitos gestos de egoísmo e maldade. Foram poucos que quiseram cantar em suas sacadas, arrecadar alimentos aos mais pobres e ajudar os idosos em áreas de risco. Foram muitos que não conseguiram lidar consigo mesmos em casa e começaram a atacar o síndico e a gestão de forma frenética, sem estes tivessem pausa para respirar dentro das suas máscaras. Vejo pessoas intolerantes, vejo pessoas dando o que têm dentro de si mesmas e quanto sentimento de ódio as pessoas têm jogado pra fora. Algumas absurdamente inconvenientes e sem limites. Têm pessoas se matando e querendo se matar dentro dos Condomínios. Querem fazer festas arrombando os salões de festas para não ficarem sozinhos, querem fazer a sua obra no apartamento, querem continuar locando a sua unidade por aplicativos por hospedagem independentemente se o condomínio tem idosos na área de risco, querem acabar com a água da caixa d´água em época de estiagem, querem atacar o síndico sem qualquer motivo, o culpando pelos seus problemas internos, tudo isso, óbvio, sem parar pra pensar na coletividade. A grama do vizinho nunca foi tão cinza e, como dizia em 1945 Jean-Paul Sartre “ O inferno são os outros”. Será? O legal mesmo seria que os protestos que as pessoas fazem em redes sociais fossem cumpridos também dentro do seu condomínio, dentro da sua vida.
Escrevo não só pela minha indignação, mas pelo fato que luto todos os dias para termos condomínios mais equilibrados. Esse é o meu papel como advogada. Mas como pessoa, creio que tenho uma missão muito maior, que é a de levar a consciência. Os síndicos têm muitas responsabilidades legais, as quais eles respondem inclusive com patrimônio próprio, são algumas delas: a civil, a criminal, a trabalhista, ambiental, tributária, dentre outras espalhadas em leis. O síndico têm muitas atividades, as quais a maioria dos condôminos desconhecem. Vejo vários dos síndicos engajados por um condomínio melhor, trabalhando para superar dificuldades e melhorar a vida para a coletividade. Mas agora, mais do que nunca, o síndico ainda tem que desenvolver habilidades pessoais para lidar com pessoas sem qualquer consciência do coletivo e, mesmo que me digam que são as minorias em condomínios, o estrago que estes fazem, é muito grande. Pense se o seu síndico não passa por isso, vamos combater essas pessoas que só incomodam e não estão preocupadas em ajudar os outros. Não estamos falando em não fiscalizar a gestão. Estamos falando em atuar com respeito e educação. Pensar no próximo. Se colocar no lugar do síndico e do outro. Lembre-se que você escolheu viver em condomínio e a sua escolha tem responsabilidades para com você e com o outro. Os tempos atuais pedem mudanças drásticas. Vamos começar sendo melhores para que o “novo normal” não seja repetido dentro das nossas casas.
Luciana Lozich – Advogada Sócia da Karpat Sociedade de Advogados Curitiba