Seguranças ainda esconderam provas do crime e dificultaram investigação
Segundo o relatório final do inquérito, ao qual o EXTRA teve acesso com exclusividade, por volta das 6h de 28 de janeiro, Clailton foi baleado na cabeça. Os cinco disparos também atingiram a parte traseira de seu carro, um Fiat Palio. Os disparos foram feitos por Felipe Oliveira Vieira e Eduardo do Nascimento Gonçalves, ambos do Grupo Hawk Segurança e Vigilância Ltda. A empresa é contratada pelo pelo Condomínio Del Lago para prestação de serviços de segurança armada, monitoramento de câmeras do circuito interno, limpeza e jardinagem.
“Coincidentemente, as imagens fornecidas pela Hawk são somente aquelas que, em tese, demonstram o possível crime de furto praticado por Clailton. Absolutamente nenhuma câmera que tenha relação com a abordagem dos vigilantes foi apresentada. Pelo princípio da boa-fé objetiva e o manifesto interesse pelo ônus probatório, a empresa seria a maior interessada em fornecer as imagens que comprovariam a versão narrada pelos seus prepostos”, destaca um trecho do documento, assinado pelo delegado Leandro Gontijo, titular da 16ª DP.
O relatório do Instituto de Medicina Legal (IML), ao investigar a causa da morte de Claiton, também revelou irregularidades nas trajetórias dos disparos, comprovando a edição das imagens de segurança. Além disso, o relatório ainda declara que “os vigilantes, em franca usurpação da função pública de policiamento ostensivo, portando arma de forma ilícita, o constrangeram mediante grave ameaça para que ele saísse do carro, encostasse na parede e aguardasse a presença da PM”.
Portanto, Felipe e Eduardo foram acusados de assassinato, porte ilegal de arma de fogo e usurpação de função pública. Michel Borges da Silva, representante legal da Hawk, irá responder por homicídio por omissão, porte ilegal de arma, fraude processual e favorecimento real. Já o técnico de TI Alex Dias Braga da empresa, vai responder por favorecimento real, fraude processual e falso testemunho, uma vez que, em depoimento à polícia, mentiu que as imagens de segurança eram apagadas a cada cinco dias e que as gravações só eram ativadas por sensibilidade ao movimento.
Histórico do caso
Essa decisão das autoridades aconteceu nove meses após a morte de Claiton e com inúmeras dificuldades durante as investigações. Inicialmente, o episódio foi interpretado como resposta em legítima defesa após uma tentativa de roubo.
A primeira versão dos fatos foi dada pelos seguranças do condomínio, na qual alegaram que Claiton tentou roubar seis baldes de massa acrílica, um ancinho de jardim e um rolo de 20 metros de cano de cobre, que estavam sendo utilizados em obras de uma casa. Assim, os funcionários teriam abordado o pedreiro que concordou em parar, porém tentou fugir com um carro quando descobriu que a Polícia Militar seria acionada.
Dessa forma, alegaram que ele avançou com o carro para cima dos seguranças e, então, foram feitos os disparos supostamente em legítima defesa. Os cinco tiros acertaram o carro e a cabeça de Claiton. Ainda com vida, a vítima foi levada ao hospital e foi preso em flagrante por roubo impróprio (com emprego de violência ou grave ameaça), e a ação dos seguranças, classificada como legítima defesa. Claiton permaneceu por 11 dias em coma induzido até não resistir e morrer em 8 de fevereiro.
Apesar do esclarecimento acerca do assassinato, a justiça ainda não foi concluída, visto que os culpados ainda estão em liberdade e a família da vítima sofre com dificuldades financeiras. Claiton era pai de oito filhos e sustentava sua família.
Fonte: https://jornalistaslivres.org/